segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um "maníaco do Arco-Íris"?


Triste notícia que acabo de ler: desde julho do ano passado, 13 assassinatos, 1 por mês, ou seja, até agosto desse ano, tem tirado a vida de gays no Parque dos Paturis, em Carapicuíba (região da periféia, próxima ao luxuoso condomínio de Alphaville) uma espécie de "território-livre" em que os gays aproveitam "para caçar". A polícia acredita tratar-se de um serial killer, já que circunstâncias dos crimes são idênticas. Não há elementos suficientes para levantar suspeitos. 

Apesar da proximidade de um local tão luxuoso quanto Alphaville, a polícia de Carapicuíba não tem funcionários suficientes para progredir nas investigações. Mas será que há interesse em desvendar o "maníaco do Arco-Iris"? 

Ele mata gays que frequentam um parque em busca de prazeres casuais e imorais, podem imaginar - mesmo que, em respeito ao discurso "politicamente correto", tal pensamento não seja verbalizado - alguns moralistas-equivocados-de-plantão. Seria tal pensamento verdadeiro? Será que a vida de quem é diferente do padrão desejado pelo falso-moralismo-social vale pouco assim que atitudes mais drásticas para solucionar o caso não sejam tomadas com maior urgência? Será que esse maníaco não seja como tantos por aí que precisam matar o que desejam como se matando o que desejam não desejassem mais?

Tristes os que não enxergam na diversidade o fio dourado de uma sociedade mais rica. Triste "maníaco do Arco-Iris". Tristes frequentadores do Parque dos Paturis. Triste falta de policiamento. 

Tristes mesmo daqueles que se acomodam no lamento. É preciso ir à luta para que a roda gire e a vida mude.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A consciência de ter um MELHOR AMIGO

Michel Fernandes

Como dia 20 de novembro é a data em que comemoramos o dia da Consciência Negra - como se a diversidade não devesse ser celebra todos os dias, ainda num país, felizmente, miscigenado como o nosso Brasil - quero render minhas homenagens a todos os negros, afro-descendentes para ser políticamente correto, por meio de um personagem, Edson Jr., negro e , acima de tudo, meu MELHOR AMIGO.

Nossa amizade tem uns 8 anos e meio, mas, pra quem acredita em outras vidas como eu acredito, deve fazer uma dúzia delas em que nos encontramos repetidamente. Não temos atração, desejos sexuais mútuo e mal-resolvidos, embora algumas pessoas acreditem que rola algo entre nós, tamanha é nossa cumplicidade. Mas não: o que há entre nós é a mais terna, a mais reconfortante, a mais bela AMIZADE genuína.

Dentre nossas afinidades culturais, sensibilidade à flor-da-pele, gosto pelas mesmas cantoras e pela MPB como um todo, o gosto por literatura, por teatro, espetáculos de dança - nesses quesitos nossa cumplicidade é tal que sabemos o que agrada a um e ao outro, sendo-nos garantida a apreciação daquilo que o outro indica -, entre outras, acredito que a que dá a solidez de nossa amizade é a forma como conduzimos nossa vida: grávidos de sonhos, parteiros de nosso progresso e um combate - mesmo que um precise, alternadamente, confortar o outro de decepções - feroz àqueles que não sabem ou não ousam - por medo ou preguiça - a enxergar o que é diferente com curiosidade e não com idéias pré-concebidas. 

Acredito que a riqueza de nossa vida tenha aí um centro. Temos consciência não só de que existem cores de pele diferentes, tipos físicos diferentes, deficientes físicos etc., mas de que é mais interessante descobrir do que repudiar as diferenças sem nos darmos a chance de conhecê-las. 

Outro ponto de união é nosso ideal de vida, a paixão pelo que fazemos, o prazer de conquistar nosso espaço aos poucos, com todo nosso suor, mas a gente aprendeu que o que nos fortalece são os obstáculos que trombam com a gente no meio do caminho.


Viva a diversidade e viva a amizade!

P.S. : Há uma nova crônica do Saulo Krieger no Aplauso Brasil que faz um delicioso relato de como algumas restrições de usuários em sites de relacionamentos camuflam a oportunidade de ver além dos esteriótipos do que definem como requisito básico. Vale ler!

sábado, 15 de novembro de 2008

Medo das GENTES


Michel Fernandes (mfhamlet@gmail.com) 

Muitas pessoas podem ler o que sinto como bobagem, ou "viadagem", ou como prefiram definir, o fato é: dá pra se escolher o quê e o como sentir?

Hoje estou com medo das GENTES, de estar perto das GENTES, de falar com as GENTES, de ouvir as GENTES, de ler as GENTES... Por mais tosco e inapropriado, escolhi esse método para não machucar nem a mim nem aos que conheço.

Queria água em mim que me limpasse de mim!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Quero ir embora pra Antártica no seu OVNI

Quando pesquisava para escrever a matéria sobre a abertura do 16° Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual soube que, infelizmente, o filme Antártica (Antarctica), do israelense Yair Hochner, teve apenas aquela apresentação especial para a abertura do Festival, na noite de quarta-feira (12). É uma pena, porque iria alardear aos quatro cantos do mundo para que o maior número de pessoas fosse assistir.

Yair pegou um ponto que me toca muito, a desintegração da estrutura familiar diante da inadequação de lidar com situações diversas, no caso a homossexualidade e a ambição familiar do crescei-e-multiplicai-vos, mas sobretudo como é posta a situação da relação afetiva e do FAST FOOD sexual que, dando o braço cibernético a torcer, ganhou amplitude quantitativa.

Um dos personagens transa duas vezes com um cara sem saber da transa anterior e, passados três anos, os dois voltam a transar e descobrir que já dividiram a alcova duas vezes antes. Hilária e terrívelmente assustadora, por tratar-se da mais nua e crua realidade, é como eles planejam verbalmente como executarão a foda. Sim, não é transa, é foda, não n sentido moralista, mas num sentido de que o que há de humano no ato sexual é substituído pela mera satisfação robótica do tesão de momento. E depois? O vazio. A autodecepção. O vácuo. 

Isso mexeu comigo porque, confesso, não dispenso sexo, mas o vácuo depois do prazer é terrível. Não sei se faço isso pra me proteger de deceções devido aos inúmeros romances e/ ou tentativas de mergulhar numa relação que naufragou.

O que eu sei é que não sei nada de mim. E quem sabe de si? Mas eu preciso ouvir e ler nas entrelinhas das minhas ações pra saber, de verdade quem eu sou, o que eu quero, como eu quero, como eu devo proceder pra conquistar o que eu quero e como dialogar com o querer do outro para que, em lugar de choque-atômico, haja uma relação dialética e democrática entre os quereres.

Tem horas que dá vontade de entrar no primeiro OVNI que aparecer no meio do caminho e partir abduzido pra Antática, lá onde os problemas ficam um período congelados... E eu que pensava que problemas afetivos eram exclusividade minha só porque sou cadeirante... Ledo engano. Há uma crise no modus operandis do relacionamento! 

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Menos romântico, mais contemporâneo

Parece que quanto mais os dias passam, as relações entre duas pessoas que se curtem precisam tomar cuidado para não ser romântica demais para não correr o risco de ser taxada como obsoleta. A equação "da moda" parece ser menos romantismo mais objetivismo igual relação contemporânea.

É nosso fado viver num ritmo vertiginoso em que nem podemos sentir o outro e o quanto de nossas diferenças sejam suportáveis?

Ou é hora de outra sintonis, outro ritmo para irmos nos conhecendo aos poucos, sem pressa, sem medo...?

Juro que gostaria da fórmula que me capacitasse agir pra q ue a vida seja menos tropeços. Mas será que isso é possível afinal de contas?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um pouco de equilíbrio

Por Michel Fernandes (Michel@aplausobrasil.com)

 

Transitar na corda bamba e poder entornar para um dos dois lados que carregam, cada um deles, variações polares tão opostas nada tem de agradável.

 

Na verdade sempre fui assim, extremamente fossilizado em pólos, sem conseguir preencher essa linha do “entre” que é a única capaz de nos trazer um pouco de equilíbrio.

 

Dia desses chorava as pitangas com um amigo meu que também chorava as suas para mim. Sofremos de um mal encadeado: preconceito + rejeição. Eu por ser um gay cadeirante numa São Paulo farta em opções de outros gays, supostamente, e erroneamente tido como, “normais”; ele por ser soropositivo, mesmo que lindo e assintomático.

 

Em primeiro grau de nosso papo disse a ele – e disse porque creio nisso piamente – que o preconceito expresso por palavras, mesmo quando o emissor delas desculpa-se dizendo ter se “expressado incorretamente”, nos dá a dimensão do raciocínio do indivíduo. Isso não é nenhuma novidade aos que têm alguma familiaridade com as teorias psicanalíticas de Jacques Lacan que estuda, sobretudo, o subtexto daquele que formula uma frase com o intento de dizer algo diferente daquilo que, inconscientemente, pensa, como um a “ato falho em palavras”. Voltando, quando o cara disse a ele que ele deveria se relacionar com outros soropositivos, ficou nítida a exclusão preconceituosa que o cara estabeleceu, portanto pra que chorar por pessoas assim?

 

Só que dar conselhos é fácil, mas outro dia ouvi essa “eu sou uma pessoa sem tempo e você depende de cuidados especiais demais e eu não poderia oferecê-los”. Realmente, dependo de algumas coisas – embora tenha certa independência dentro da dependência – e ele foi “sincero, só isso”, segundo minha irmã, além de, segundo ele mesmo, “ter-se expressado mal”. Seja a hipótese que for, meu conselho ao amigo vale pra mim também: “pra que chorar por pessoas assim?”.

 

O problema maior não é o preconceito que sentimos arranhar nosso osso, esse dói bastante mas cicatriza logo. O pior e o que está encadeado a isso, a rejeição. Sentir que o outro rejeita você porque ele te considera incapaz de ser com ele, ele considera você apto a transitar apenas em guetos “com seus pares”, não arranha, tritura nossos ossos e nossa alma.

 

Lembro que uma das passagens que mais me marcou do filme O Oitavo Dia é quando o protagonista, que tem Síndrome de Down, vai a uma danceteria, dança e, quando deixam a pista só para ele, que é Down, ele sai em desespero gritando que só quer ser igual aos outros.

 

Acho que essa é uma das conseqüências que capacita a rejeição de desestabilizar quem quer que seja. No fundo não queremos ser tratados com privilégios, piedade ou algo que não seja além do normal. Essa normalidade é a base do porvir especial nas relações. É o princípio.