O KadeiraSutra partiu de uma idéia muito simples: discutir as diferenças físicas (dos fisicamente diferentes, sejam cadeirantes, cegos, surdos etc.), as diferenças sexuais (ser hétero, bi, homossexual etc.) e como isso se relaciona na roda das idéias pré-concebidas, sob o meu ponto de vista, já que sou gay e cadeirante. Mas, hoje, consigo perceber que as diferenças e os tabus contidos nelas, vão além da idéia original do blog, então participe e deleite-se com as mudanças!
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
A consciência de ter um MELHOR AMIGO
sábado, 15 de novembro de 2008
Medo das GENTES
Michel Fernandes (mfhamlet@gmail.com)
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Quero ir embora pra Antártica no seu OVNI
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Menos romântico, mais contemporâneo
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Um pouco de equilíbrio
Por Michel Fernandes (Michel@aplausobrasil.com)
Transitar na corda bamba e poder entornar para um dos dois lados que carregam, cada um deles, variações polares tão opostas nada tem de agradável.
Na verdade sempre fui assim, extremamente fossilizado em pólos, sem conseguir preencher essa linha do “entre” que é a única capaz de nos trazer um pouco de equilíbrio.
Dia desses chorava as pitangas com um amigo meu que também chorava as suas para mim. Sofremos de um mal encadeado: preconceito + rejeição. Eu por ser um gay cadeirante numa São Paulo farta em opções de outros gays, supostamente, e erroneamente tido como, “normais”; ele por ser soropositivo, mesmo que lindo e assintomático.
Em primeiro grau de nosso papo disse a ele – e disse porque creio nisso piamente – que o preconceito expresso por palavras, mesmo quando o emissor delas desculpa-se dizendo ter se “expressado incorretamente”, nos dá a dimensão do raciocínio do indivíduo. Isso não é nenhuma novidade aos que têm alguma familiaridade com as teorias psicanalíticas de Jacques Lacan que estuda, sobretudo, o subtexto daquele que formula uma frase com o intento de dizer algo diferente daquilo que, inconscientemente, pensa, como um a “ato falho em palavras”. Voltando, quando o cara disse a ele que ele deveria se relacionar com outros soropositivos, ficou nítida a exclusão preconceituosa que o cara estabeleceu, portanto pra que chorar por pessoas assim?
Só que dar conselhos é fácil, mas outro dia ouvi essa “eu sou uma pessoa sem tempo e você depende de cuidados especiais demais e eu não poderia oferecê-los”. Realmente, dependo de algumas coisas – embora tenha certa independência dentro da dependência – e ele foi “sincero, só isso”, segundo minha irmã, além de, segundo ele mesmo, “ter-se expressado mal”. Seja a hipótese que for, meu conselho ao amigo vale pra mim também: “pra que chorar por pessoas assim?”.
O problema maior não é o preconceito que sentimos arranhar nosso osso, esse dói bastante mas cicatriza logo. O pior e o que está encadeado a isso, a rejeição. Sentir que o outro rejeita você porque ele te considera incapaz de ser com ele, ele considera você apto a transitar apenas em guetos “com seus pares”, não arranha, tritura nossos ossos e nossa alma.
Lembro que uma das passagens que mais me marcou do filme O Oitavo Dia é quando o protagonista, que tem Síndrome de Down, vai a uma danceteria, dança e, quando deixam a pista só para ele, que é Down, ele sai em desespero gritando que só quer ser igual aos outros.
Acho que essa é uma das conseqüências que capacita a rejeição de desestabilizar quem quer que seja. No fundo não queremos ser tratados com privilégios, piedade ou algo que não seja além do normal. Essa normalidade é a base do porvir especial nas relações. É o princípio.